terça-feira, 27 de novembro de 2012

Breve meditação.



Ontem à noite na academia de musculação (para não confundirem com a de Letras), fui convidado por um colega Advogado para participar de uma reunião em seu escritório junto aos seus funcionários, estagiários e sócios. Ainda na noite de ontem, em “Gym Time”, o colega se queixava da dificuldade que estava tendo, em administrar o respectivo contato interpessoal. Especialmente, o quanto sentia por ainda não poder oferecer quantitativa motivação financeira aos melhores parceiros, principalmente, aos dois bons estagiários que possui.

Em conformidade, aceitei o convite.

Hoje, chegando a seu escritório, me deparo com alguns conhecidos em comum, e logo, na ante-sala do espaço onde esperávamos, havia a biblioteca, que por sinal, muito bem abastecida de grandes especialistas do Direito, ladeados de reconhecidos escritores da literatura mundial. Quando um desses colegas, por vez, sócio daquele escritório, me confessou já ter devorado a metade daquela distinta fábrica do saber, - completando, em contorno desconexo do contexto da conversa, que eu, apesar do terno, aparentava estar bastante rijo (forte), finalizando que eu parecia gastar muito tempo me cuidando. E que eu deveria administrar melhor as horas destinadas ao meu labor ócio.

Em silêncio, me questionei, “se não estava conversando com um gay enrustido”. Mas mesmo com esse forçoso arremate, repliquei sorrindo.

Passado o fato, sentamos a mesa de reunião, e o titular do escritório, a quem me convidara como participe em dia anterior, abriu os trabalhos. E não deixando sumarizar, para síntese da história, decidiu demonstrar-se superior a todos, declamando sua própria, e por vez, confusa inteligência - o mesmo, em que minutos atrás me repudiou de forma deselegante, creio. 

No aparte fora de hora, o cidadão conseguiu constranger a todos que ali estavam, dando demonstrações verbais da gratuidade de sua dispensável presença, ao tempo, de personalidade. Outro colega presente, com muito tato, conseguiu converter o quase que insuperável “chato”, em piadista cômico sem noção.

Mas naquele momento, de um modo soeis, passei a pensar se verdadeiramente, um intelectual que se diz intelectual, é mesmo tão importante para o País e para o Direito, quanto ele costuma achar que é. Findei com a mais absoluta certeza: talvez. 

Ainda que o dito cujo tenha terminado toda uma biblioteca minada de excelentes livros, se este não consegue fazer nada de positivo com seu conhecimento culminado com sua educação, então passará a ter pouco, ou, nenhum valor a mais do que aquele que precariamente conhece, mas que bem utiliza a miudeza intelectiva que lhe cabe.

Prontamente, o cultivo da cultura para servir apenas de diferencial em uma mesa de restaurante caro, para que se ludibrie em “contando vantagens” eivadas de mau gosto, não melhora o País e nem o próprio sujeito que detém desta suposta tradição. 

E foi essa a minha conclusão ao sair dali, desejando que em cada bairro pobre, em cantos e loas deste Brasil, num futuro bem próximo, haja uma biblioteca pública tão boa quanto aquela. Tenho certeza que este pessoal, moradores desses lugares, vezes inóspitos, irão fazer, verdadeiramente, um uso proveitoso da cultura adquirida. 

Pois, o que realmente falta nos intelectuais desbocados que se “autoproclamam”, sobra, e muito, naqueles que vivem a margem do saber. E nada menos é, que um espírito menos boçal e mais humanista dentro do corpo.